VALENTE, José Armando & ALMEIDA, Fernando
José. Visão Analítica da Informática no Brasil: a
questão da formação do professor. Revista Brasileira de Informática na
Educação, número 1, PP. 45 – 60, 1997. Disponível em: http://www.geogebra.im-uff.mat.br/biblioteca/valente.html (acesso em Dezembro de 2012)
Resumo e Citações
O
autor introduz o artigo explanando o que será abordado no corpo do mesmo. Faz
ainda um breve relato sobre a origem da informática na educação no Brasil,
aponta alguns problemas no programa, criado pelo governo, para implantação de
computadores nas escolas. Diferencia, ainda, os objetivos “Programa Brasileiro
de Informática na Educação” dos programas americano e francês, que tratam do
mesmo assunto.
Em seguida, relata
que “a Informática na Educação no Brasil nasce a partir do
interesse de educadores de algumas universidades brasileiras motivados pelo que
já vinha acontecendo em outros países como nos Estados Unidos da América e na
França.” Por volta dos anos 70, pesquisadores da UFRJ, UFRGS e UNICAMP,
iniciaram suas pesquisas com relação ao uso de computadores na educação.
Contudo, o uso do computador no Brasil ocorre com um propósito diferenciado do
que ocorre nos Estados Unidos e na França. “A Informática na Educação ainda não
impregnou as ideias dos educadores e, por isto, não está consolidada no nosso
sistema educacional.” Critica que “faltou vontade política dos dirigentes”, porém,
“focar a discussão somente na falta de recursos financeiros parece muito
superficial”.
“A posição que defendemos é que, além da falta de verbas existiram
outros fatores responsáveis pela escassa penetração da Informática na Educação.
A preparação inadequada de professores, em vista dos objetivos de mudança
pedagógica propostos pelo "Programa Brasileiro de Informática em
Educação" (Andrade, 1993; Andrade & Lima, 1993) é um destes fatores.
Esse programa é bastante peculiar e diferente do que foi proposto em outros
países”. Para mostrar tal fato, descreve sobre a informática na educação em
outros países.
“Nos Estados Unidos, o uso de computadores na
educação é completamente descentralizado e independente das decisões
governamentais.” O uso do computador nas escolas é motivado pelas indústrias
com o propósito de atualizar e melhorar a tecnologia. Após descrever o processo
de evolução pelo qual o computador passou desde a criação da Computer-Aided
Instruction (CAI) até o microcomputador, relata a inclusão do mesmo na
educação; entretanto isso não significa dizer que a “utilização maciça do
computador tenha provocado ou introduzido mudanças pedagógicas. Muito pelo
contrário. A mudança pedagógica, ainda que muito lenta, foi motivada pelo
avanço tecnológico e não por iniciativa do setor educacional”.
Descreve ainda o uso dos
computadores na educação, de que maneira a tecnologia foi usada e continua até
a atualidade. O autor teve a preocupação de analisar além do uso dos
computadores na educação, a relação que os educadores têm com os mesmo. A
preocupação que se concentra hoje é a da formação de professores preparados
para utilizarem das tecnologias disponíveis para auxiliar as aulas. “Nos
Estados Unidos os professores foram treinados sobre as técnicas de uso dos
softwares educativos em sala de aula ao invés de participarem de um profundo
processo de formação”, entretanto nos dias atuais, “as universidades americanas
ainda são as grandes formadoras de professores para a área de informática na
educação. Praticamente todas as universidades oferecem hoje programas de
pós-graduação em informática na educação e muito desses cursos estão
disponíveis na Internet”. Contudo, devido o fato de a escola visar somente à
transmissão de informação, “poucas são as escolas nos Estados Unidos que
realmente sabem explorar as potencialidades do computador e sabem criar
ambientes que enfatizam a aprendizagem”.
Diferente dos Estados Unidos, na
França a preocupação foi outra. “A França foi o primeiro país ocidental que
programou-se como nação para enfrentar e vencer o desafio da informática na
educação e servir de modelo para o mundo”, devido à valorização da educação a
“escola pública é fortíssima e a escola particular é quase inexistente”. Outro
fato que faz da França um modelo para o mundo é como o país se prioriza a
educação, “a implantação da informática na educação foi planejada em termos de
público alvo, materiais, software, meios de distribuição, instalação e
manutenção do equipamento nas escolas. Neste planejamento os dirigentes
franceses julgaram ser fundamental a preparação, antes de tudo, de sua
inteligência-docente”, ou seja, para que a implantação da informática na
educação fizesse efeito, antes de tudo, era necessária a preparação dos
professores para saberem usar as tecnologias em favor do ensino. Mesmo sendo
outro o objetivo da implantação da informática na educação, o mesmo resultou em
mudanças na ordem pedagógica das escolas francesas, embora os avanços obtidos
não fossem os desejados.
A seguir discorre sobre as tecnologias
usadas e seus respectivos objetivos, por mais que tenham mudado em alguns
aspectos, a essência do mesmo continua: “os objetivos continuavam sendo a
aquisição do domínio técnico do uso do software e a integração de ferramentas
computacionais ao processo pedagógico”, porém, é importante frisar que o
objetivo jamais foi o de ocasionar mudanças pedagógicas, as mesmas vieram sem
planejamento. O computador era usado como “recurso” ao desenvolvimento das
atividades educacionais.
Após discorrer sobre a evolução das
tecnologias de informação e comunicação na educação, o autor afirma mais uma
vez que, dentre outras preocupações, a maior delas era a formação do professor
em informática: “talvez o que mais tenha marcado o programa de informática na
educação da França tenha sido a preocupação com a formação de professores”,
entretanto “a formação em informática propriamente pedagógica iniciou-se a
partir do plano ‘Informática para Todos’ (1985)” /.../ “outra preocupação do
programa francês tem sido o de garantir a todos os indivíduos o acesso à
informação e ao uso da informática”.
No Brasil as políticas de informática na educação iniciaram com
pesquisas e experiências por volta da década de 1970 em três das diversas
universidades do país. Diferentemente dos Estados Unidos e da França, o Brasil
fundamentou a implantação da informática na educação em pesquisas já realizadas
na universidade nessa área. “A implantação do programa de informática na
educação no Brasil inicia-se com o primeiro e segundo Seminário Nacional de
Informática em Educação, realizados respectivamente na Universidade de Brasília
em 1981 e na Universidade Federal da Bahia em 1982”.
Existem três principais diferenças entre o programa de informática na
educação no Brasil e nos Estados Unidos e na França. “A primeira grande
diferença do programa brasileiro em relação aos outros países, como França e
Estados Unidos, é a questão da descentralização das políticas” /.../ “A segunda
diferença entre o programa brasileiro e o da França e dos Estados Unidos é a questão
da fundamentação das políticas e propostas pedagógicas da informática na
educação”. No Brasil o projeto EDUCOM, projeto contemplou “a diversidade de
abordagens pedagógicas, como desenvolvimento de softwares educativos e uso do
computador como recurso para resolução de problemas”. “A terceira diferença é a
proposta pedagógica e o papel que o computador deve desempenhar no processo
educacional”. Os centros de pesquisas do projeto EDUCOM atuaram na “perspectiva
de criar ambientes educacionais usando o computador como recurso facilitador do
processo de aprendizagem.” Apesar dos esforços, os avanços obtidos não foram
suficientes para mudar o sistema educacional como um todo. Todavia, “a promoção
dessas mudanças pedagógicas não depende simplesmente da instalação dos
computadores nas escolas” é preciso ir muito além. Com a implantação dos
computadores nas escolas o professor passa a ter função diferente, ao invés de
ser transmissor do conhecimento, ele passa a ser mediador do processo de ensino
e aprendizagem. Nas palavras do autor “a ênfase da educação deixa de ser a
memorização da informação transmitida pelo professor e passa a ser a construção
do conhecimento realizada pelo aluno de maneira significativa, sendo o
professor o facilitador desse processo de construção”.
O projeto EDUCOM focou sua atenção na formação de professores de 1º e 2º
graus para usarem a informática na educação. Contudo, surgiram diversos
problemas com relação à atuação do professor em sala de aula e sua formação no
projeto. Tais como, a falta de contextualização do curso com a realidade
educacional do professor, além de tantos outros obstáculos imprevistos. Os
cursos FORMAR I e FORMAR II, como foram denominados, formaram 100 professores
vindos de todos os estados brasileiros. Apesar dos obstáculos, esses cursos
também obtiveram pontos positivos, dentre outros, “o curso propiciou uma visão
ampla sobre os diferentes aspectos envolvidos na informática na educação, tanto
do ponto de vista computacional quanto pedagógico.” Apesar dos pontos positivos
houve diversos pontos negativos; entre eles o fato do curso ter sido “realizado
em local distante do local de trabalho e de residência dos participantes”.
Outro ponto negativo foi o fato que “o curso foi demasiadamente compacto”. Por
fim, “muitos desses participantes voltaram para o seu local de trabalho e não
encontraram as condições necessárias para a implantação da informática na
educação.”
Apesar das dificuldades enfrentadas, “as experiências de implantação da
informática na escola têm mostrado que a formação de professores é fundamental
e exige uma abordagem totalmente diferente”. Para que se tenha um progresso
visível, é necessário que os cursos de formação de professores mudem em muitos
aspectos, após analisar os aspectos que envolvem o cotidiano do professor e
adotar as abordagens necessárias para que o curso faça “efeito”; dessa forma “o
curso de formação deixa de ser uma simples oportunidade de passagem de
informação para ser a vivência de uma experiência que contextualiza o
conhecimento que o professor constrói”.
Apesar de nos Estados Unidos o computador da Apple ter feito sucesso na
educação, no Brasil o mesmo não pode acontecer. Vários aspectos impediram que o
mesmo fosse usado no sistema educacional brasileiro, um de extrema importância
foi o fato do teclado do computador não possuir os caracteres exclusivos do
idioma brasileiro. Mesmo com sua flexibilidade foi substituído por uma criação
da Sharp (Hotbit) e Gradiente (Expert), o MSX, na qual apesar de não ser
possível criar banco de dados, textos e planilhas, o MSX era útil à educação,
pois era “voltado para o mercado dos vídeo-jogos. Ele tinha inúmeras
facilidades de hardware que permitiam implementar animação, quatro canais para
produção simultânea de som, 256 cores e usava como monitor uma televisão a
cores. Essas facilidades permitiam o desenvolvimento de bons software
educativos, inúmeros jogos e uma ótima versão do Logo”.
Com o
surgimento do sistema Windows, “foi possível desenvolver inúmeros programas
para praticamente todas as áreas”. Por outro lado trazia consigo novos
problemas, com as diversidade de programas que o Windows possuía, tornava-se
mais difícil preparar os professores para utilizarem de seus benefícios na
educação. Com isso “o professor precisava de uma formação mais sólida e mais
ampla.” Essa diversidade também causou nos professores uma certa insegurança
quanto ao seu uso necessitando que a formação docente fosse refeita. E “mais
uma vez, a questão da formação do professor mostra-se de fundamental
importância no processo de introdução da informática na educação, exigindo
soluções inovadoras e novas abordagens que fundamentem os cursos de formação”.
O autor conclui dizendo, entre
outras coisas, que “as práticas pedagógicas inovadoras acontecem quando as
instituições se propõem a repensar e a transformar a sua estrutura cristalizada
em uma estrutura flexível, dinâmica e articuladora.” Entretanto, “os avanços
tecnológicos têm desequilibrado e atropelado o processo de formação fazendo com
que o professor sinta-se eternamente no estado de "principiante" em
relação ao uso do computador na educação.” Outra vez cabe afirmar que
“A formação do professor deve prover condições para que ele construa
conhecimento sobre as técnicas computacionais, entenda por que e como integrar
o computador na sua prática pedagógica e seja capaz de superar barreiras de
ordem administrativa e pedagógica”.
Crítica
O texto é bastante construtivo devido o fato de o autor expor em sua
obra um breve relato sobre a evolução da informática e da implantação dos
computadores na educação em países como o Brasil, os Estados Unidos e a França.
Ao descrever os processos de implantação dos computadores na educação, nos
diferentes âmbitos de cada país mencionado, pode-se perceber os pontos
positivos e negativos desta ação, o que nos faz compreender que tudo o que se
vai fazer tem que ser feito com um certo planejamento, visando sempre o melhor,
pois mesmo que os resultados alcançados não forem os esperados, ter-se-á ao
menos uma margem de avanço.
Os argumentos usados deixam claro que o maior problema está na formação do docente para atuar com as
tecnologias de informação na educação, para usá-las para benefício do processo
de ensino e aprendizagem.
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